Metade de Mim



Estou de volta e do mesmo jeito. Enquanto a grande maioria das pessoas dormem ou se divertem, eu me pego numa luta desenfreada pela sobrevivência, tentando ser a mediadora deste round entre o que sinto e o que penso.

Tenho pensado seriamente em parar todo o tratamento medicamentoso, terapia e com tudo.

Não precisa gastar suas falas, eu sei o que irás dizer.  Também sei como deveria ser. Mas estar aqui dentro, nesta situação, não é fácil.

Estou num lugar maravilhoso, acampada com quase 20 pessoas da família do meu marido. Por mais que eu esteja sempre fingindo ser quem pensam que sou, ou como sou, ou como esperam que eu seja... No final de tudo só penso em fingir que tô dormindo pensando em nada, absolutamente nada capaz de me vencer e fazer com que eu me sinta literalmente bem. Afinal todos nós sempre estamos bem.

Geralmente conto as horas pra estar neste lugarf, faço planos e aproveito muito. Mas dessa vez, nem sei mais o que quero.

Hoje eu resolvi tentar sair sozinha com meu filho, fazer o que habitualmente me deixaria feliz. No entanto, parece que meu coração está imune a isso. É um vazio sem explicação.

Passei o dia fora, voltei e me sentei pra conversar com a "galera". Mas também não obtive resultado.

Tenho bebido mais do que o costume; misturado bebida com remédios para diversos fins; misturado  medicações na ânsia de conseguir fazer um coquetel que anestesie minha alma, que me proteja de mim.

Meu filho, meu marido, minha psicóloga... me desculpem por eu estar assim. Mas não estou mais conseguindo lidar com esse turbilhão de emoções e pensamentos auto destrutivos. É mais forte do que eu...

Só gostaria de dizer que essa não sou eu, ou pelo menos eu acho que não era.

Tem dia que acordo parecendo estar melhor, contudo com o passar das horas vou ficando sem força, sem ar e tudo volta a perder o sentido, tornando-se insuportável.

Confesso estar procurando meios legais para forçar acontecer o que não tive/tenho coragem (ainda).

Mais do que nunca, tenho me colocado a frente de riscos, e se o que tiver mais chance de morrer ficar ao meu alcance, o farei.

Eu não quero... Mas quero... Não é querer.. é apenas desejar acabar com esse duelo agonizante e inconstante. Acabar com essa curva de sobe e desce. Acabar com meus fantasmas.

Nem sei mais o que falar. Afinal o disco só toca a mesma música.

Enquanto muitos nessa hora desejam viver, me encontro na contramão, o que me gera um desespero maior, por não poder ou conseguir ser grata pelo dom da vida.

Mesmo assim resolvi escrever. Porque é como que uma forma de eu achar que estou fazendo a coisa certa ao falar com alguém. Mas também não quero falar com mais ninguém, incluindo você. É como se eu tivesse no fundo de uma caverna e só conseguisse ouvir o ecoar do som que eu mesma produzo.

Parece até uma perda de bom senso; desejo que as pessoas não se preocupem mais comigo para eu não ficar pensando em ninguém e quem sabe, ter coragem de me entregar a esses sentimentos e sucumbir de vez.

Quero desapegar de tudo. Não quero migalhas de sentimentos. Não quero pena de ninguém.  Não quero ninguém fingindo que se importa. Até porque, por mais que eu grite e fale abertamente sobre o que venho sentindo e pensando, não sou ouvida.

Ao mesmo tempo, quero ficar bem. Mas acho que não dá mais.

Ainda estou consciente dos meus atos. Faço o que não deveria por vontade e pés no chão. Mas tenho medo de mim.

Metade de mim quer apagar as luzes e cair de cabeça na escuridão. A outra metade de mim luta pra continuar com a luz acesa, tentando mudar de posição. Por fim, um duelo sem fim.

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